- Team Hijab • Se

- 15 de dez. de 2019
Por Manie El Khal, 15 de Dezembro de 2019 para o blog Hijab • Se
Na primeira semana de Dezembro, acompanhamos a Hijab • Se em solo americano representando o Brasil como primeira marca de Hijabs brasileira a participar de uma semana de moda na Miami Modest Fashion Week. Quem nos acompanha nas redes sociais pôde ver de pertinho os detalhes do evento tão esperado, do backstage às passarelas. Com isso, surgiram muitas dúvidas das nossas leitoras em relação à moda modesta, dúvidas essas, muito recorrentes e que permeiam ao redor do assunto em todo o mundo.
A moda modesta nada mais é que uma ramificação da moda que explora formas de vestir recatadas por meio de tecidos e recortes menos sensuais que a indústria geralmente reproduz em larga escala. A discrição ao cobrir partes do corpo além do usual visando principalmente o conforto é um aspecto ressaltado nesse setor, com a proposta de atingir um mercado maior. Por muito tempo perdurou-se a hiper valorização da moda que se expressava através da acentuação do corpo, em especial no mercado voltado ao público feminino. Entretanto, as demandas vem mudando e sentiu-se a necessidade de se criar
um ramo que atendesse a tais.
Com muita frequência, entende-se a moda modesta como sinônimo de moda muçulmana, o que definitivamente não é o caso. Antes de qualquer coisa, deve-se compreender que a vestimenta muçulmana preza pela modéstia, de fato – o que se estende além do mero modo de se vestir –. Esse código de vestimenta religioso é simples e claro: deve-se cobrir os atrativos – tanto femininos como masculinos – e as sinuosidades não devem ser ressaltadas pelas roupas. A forma de se adaptar a isso é individual de cada um e independe de um estilo de roupa específico, desde que se respeitem tais princípios básicos. Ou seja, seria incoerente usar os termos “moda muçulmana” visto que possuem conceitos e preocupações diferentes.
O que seria a moda modesta, então? Falamos tanto sobre isso no meio digital e muitas vezes nem sabemos do que se trata. Têm-se voltado a atenção para o assunto na última década de forma global, se tornando o foco de designers ao redor do mundo e abrindo um espaço para essa faceta da moda nas coleções de grandes marcas. Essa área se expandiu tanto que em 2017 criou-se a “The Modist”: uma plataforma digital de roupas luxuosas exclusivamente modestas, para a qual desenham influentes marcas: Victoria Beckham, Valentino e Dolce Gabbana, por exemplo – as quais destinam parte de suas próprias coleções para o mesmo propósito –. Em eventos de moda com foco em Modest Fashion como a própria Miami Modest Fashion Week, a intenção é trazer essa integração de marcas, designers e públicos exaltando a diversidade com um ambiente inter-religioso dos quais participam os mais variados perfis, além de cumprir o propósito de unir e demonstrar o que se passa no mundo da moda.
Um fato interessante é que o público alvo e os maiores compradores do mercado da moda modesta – ao contrário do que se pensa –, não se limita às muçulmanas, sendo fortemente difundido dentre o público ocidental não muçulmano. A ideia se originou em função da observação de um potencial público comprador, inspirando-se na demanda de mulheres religiosas buscando atender a seus princípios de vestimenta – o que não se resume a apenas muçulmanas – e especialmente nas diferentes e mais criativas formas de adaptação da moda convencional para o conceito modesto por esse mesmo público, de acordo com as diversas manifestações culturais de cada um. Hoje em dia, esse mercado é estimado em 226 bilhões de euros. Entretanto, considerando o objetivo inicial de garantir acessibilidade a novas opções e representatividade a esse público, geram-se numerosas discussões a respeito, já que com o crescimento desse mercado – entre outros aspectos sociais contemporâneos do modo de viver e pensar – a demanda pelo Modest Fashion tomou força e se tornou mera tendência, fugindo de seu foco e significado originais e sendo alvo de discussões como “seria isso uma apropriação cultural”, além de se questionar até onde moda modesta é realmente modesta.
Em conclusão: a modéstia é um princípio e não se limita a um grupo específico – nem mesmo deve –. Com a tendência desse ramo na moda, têm-se um ganho significativamente alto em termos de facilidade de acesso a roupas apropriadas para mulheres que fazem o uso do Hijab, apesar de atender a todos os públicos. A moda em si, assim como o Hijab, é uma potente forma de expressão e nesse momento da história existe a apreciação por uma forma de vestir modesta, significando diferentes coisas para diferentes grupos e podendo se tornar novamente obsoleta no futuro até uma outra ascensão. Enquanto isso, nós buscamos fazer o uso dessa fase de forma útil e completa, tomando-a como uma grande oportunidade de expressar nossa voz e demonstrar nossa importante presença e quem somos da melhor forma.

Manie El Khal é Designer de Interiores, estudante de Arquitetura & Urbanismo e colunista da Hijab • Se.
Mineira e descendente de marroquinos, atua como professora, palestrante, orientadora para mulheres muçulmanas e não-muçulmanas na comunidade de Minas e trabalha como voluntária para a IERA em Belo Horizonte. Amante da fé e da arte, mescla-as para traduzir sua essência.
Conheça mais sobre sua história através do Instagram: @maghrebiyah











