Cristianismo e Islã: fés que se entrelaçam
- Team Hijab•Se
- 7 de fev. de 2022
- 2 min de leitura
Por Maynara Nafe, 7 de Fevereiro para o blog Hijab•Se.

A religião foi, ao longo da história, traço definidor de comportamentos políticos e sociais, moldando o nosso entendimento sobre a realidade. Com o passar do tempo, as concepções religiosas foram se modificando, assim como as práticas culturais das diversas sociedades ao redor do mundo. Contudo, é importante salientar que apesar de possuirem, hoje, afeições distintas, o Cristianismo e o Islamismo, nascidos no mesmo berço social, partilham, ambas, dos mesmos princípios de caridade, amor e fé. Sendo assim, religiões irmãs.
Das três grandes religiões monotetistas que nasceram na Península Arábica e que, hoje, dominam o mundo, tanto o Cristianismo quanto o Islamismo foram concebidas sob o signo de um mesmo povo, os levantinos, remontando afinidades históricas. Embora a distância temporal entre as duas grandes religiões demarquem diferenças na compreensão do divino, ambas anseiam responder aos mesmos dilemas sociais e políticos que existem na cultura árabe. Isso pode ser ilustrado pela recomendação, de ambos os livros sagrados, a Bíblia e o Alcorão, possuírem aspectos similares na forma de vestimenta.
As semelhanças não se limitam à mera coincidência geográfica da revelação da fé. Há várias semelhanças no conteúdo, tanto nos princípios basilares da doutrina, a saber, o amor, a caridade, a fé em Deus, a defesa da justiça e a crença da vida eterna, quanto dos personagens narrados. Apesar da mistificação de que tem sido vítima, o Islã, no Ocidente e principalmente no Brasil, onde o número de praticantes ainda é baixo e ainda muito vinculada a identidade árabe, o Islã é notoriamente uma religião de vanguarda, que defende a paz, a justiça entre os homens e a caridade para com o próximo, bem como ensinado no Cristianismo.
Além disso, ressalta aos olhos a clara intersecção entre os personagens narrados em ambos os livros, como por exemplo, a figura de Jesus é vista no Islã como um dos maiores profetas de Allah, que lhe revelou o Injil (evangelho, em árabe). No Alcorão, ele é mencionado em 15 das 114 Suras, com cerca de 93 menções. O Alcorão fala do nascimento virginal de Jesus, sendo Maria sua mãe (suras 19:16 a 23 e 29 a 33). Menciona também diversos milagres atribuídos a Jesus, como restaurar vista aos cegos, curar leprosos e ressuscitar mortos (sura 3:49).
Muitos afirmam que o Islamismo se desenvolveu a partir do judaísmo e do cristianismo. Esta é uma manifestação da visão convencional do islamismo como uma “heresia cristã”. Apesar das claras conexões existentes entre ambos os textos sagrados, a articulação desses elementos serve, no Islã, a um propósito teológico distinto, ainda que no fundo defendam princípios universais. Desta maneira cabe reafirmar: o Islamismo não é produto de “reinterpretação” do Cristianismo mas, sim, fés que nasceram próximas, entrelaçaram-se com o tempo, mas seguiram caminhos distinto; religiões irmãs.

Maynara Nafe é neta de palestinos nascida no Brasil. Graduanda em Direito, atualmente é Secretária de Juventude da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL) e colunista do Monitor do Oriente. Palestina e cristã, Maynara fala versa sobre a causa palestina, política e resistência feminina.
Conheça mais sobre sua história através do Instagram: @maynafe






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