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Halal Lifestyle na Sociedade Ocidental: É possível?

  • Foto do escritor: Manie
    Manie
  • 26 de jul. de 2020
  • 8 min de leitura

Por Manie El Khal, 26 de Julho para o blog Hijab•Se

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Quando pensamos em "Halal" logo nos vem à cabeça algo relacionado ao que é lícito dentro do Islam, ou a algo que é permitido comer, não é mesmo? Embora essas sejam as pautas mais faladas no que se refere ao Halal hoje em dia, o conceito de Halal engloba muito mais do que se parece, sendo um estilo de vida completo.

O estilo de vida Halal é baseado nos princípios da fé islâmica e é composto por diretrizes básicas que devem ser aplicadas em cada aspecto de nossas vidas, sendo o Islam uma fé holística e que nos proporciona orientações para qualquer questão, seja ela individual ou social, de forma atemporal e acessível a qualquer sociedade e cultura. Ou seja, ao tratarmos disso nos referimos ao próprio estilo de vida islâmico, em que princípios básicos de bondade, respeito, justiça, equidade, sabedoria e outras virtudes devem ser presentes em todos os assuntos. Além disso, em questões específicas existe a preocupação com pureza, higiene, segurança e sustentabilidade, entre outros. Vamos refletir um pouco sobre isso a seguir.


Acessibilidade e Completude do estilo de vida Halal

Ao contrário do que se parece, levar um estilo de vida Halal é muito simples, embora seja de conceituação mais complexa do que normalmente lhe é dada. Fazer essa escolha nada mais é do que prezar por decisões conscientes e direcionadas por virtudes, além de visar a saúde e preservação do meio ambiente e tópicos como até mesmo igualdade social, empatia e caridade, desenvolvimento e garantia de direitos humanos, trabalhistas, animais... como é ressaltado pela fé islâmica . Infelizmente, não existe nenhum país no mundo que aplique legitimamente a Legislação Islâmica que é tida pela falta de conhecimento como um bicho de sete cabeças, machista, violenta... e por aí vai, como é fomentado pela manipulação midiática. Se houvesse, tal país seria regido através dos princípios positivos e necessários citados acima, sempre em busca do bem estar social como um todo, desenvolvendo de forma exemplar uma sociedade igualitária, resiliente, justa, consciente e sustentável. Socialmente, isso inclui a forma que a Indústria é liderada, um Sistema Econômico limpo, maior Vigilância Sanitária, Controle de Qualidade mais rígido, inciativas de preservação à natureza, leis mais justas e reversão de impostos 100% a favor do cidadão, entre muitas outras coisas. Embora não exista um país 100% regido por tais princípios, alguns dos países de maioria islâmica buscam implementá-los com iniciativas em conjunto à sociedade ou por demanda dela , tornando essa opção mais acessível a todos. Mas seja lá qual for a postura do país, pouco importa: a escolha pelo Halal está dentro de cada um de nós.


Halal Lifestyle no Ocidente

O estilo de vida Halal é uma escolha que deve nos acompanhar como muçulmanos em cada setor de nossas vidas, o que não depende de qualquer circunstância externa, apesar de possivelmente ser influenciada por tal. Obviamente, é uma jornada única de cada um e deve ser praticada de forma natural, com a plena compreensão de que com ela, levamos uma vida mais saudável, respeitosa ao meio ambiente, aos animais e à vida alheia. São os mesmos princípios que devem ser observados numa escala social, independentemente de como o próprio país é regido. No Islam, acredita-se que devemos seguir a Lei do país em que se vive, e o estilo de vida Halal não vai de forma alguma contra isso, entretanto, questiona políticas corrompidas e filtra-as em nossos comportamentos na escala pessoal. Se sabemos que algo não é correto e que existem males para isso, simplesmente não aderimos e como indivíduos e cidadãos em uma Democracia, temos o direito de nos expressar sobre e de nos abster disso .


No que isso entra, por exemplo? Vivemos em uma sociedade globalizada, industrializada, que visa o lucro e o poder, consumista, extremamente marcada pela corrupção em qualquer escala hierárquica e que é abusiva às minorias, às mulheres, ao meio ambiente... . O estilo de vida Halal nos dá diretrizes de como lidar com isso e nos orienta a nos abster de qualquer coisa que alimente esse sistema insalubre e fortemente nocivo. Como dito anteriormente, não existe país que siga isso à risca, mas onde a demanda pela população é mais significativa, existe uma facilidade relativamente maior quanto ao acesso a certas coisas, mas o que não nos impede de fazer essa escolha no Ocidente, lidando com isso de forma alternativa o que inclusive, por sua relativa dificuldade nos garante ainda mais recompensas pelo esforço, inshaAllah (se Deus quiser) .



No que isso se aplica em nossas vidas?

Literalmente tudo. Risos. É natural que como muçulmanos desenvolvamos em nós o senso do que é o mais próximo do correto e o que pode ser eventualmente prejudicial, e assim vamos tomando nossas decisões. Isso vai desde o que consumimos à forma com a qual consumimos; ou ao tipo de produtos que compramos e às indústrias que ajudamos a crescer; à maneira que fazemos negócios e nossas transações bancárias livres de usura e até mesmo às nossas ideologias, como nos expressamos e os movimentos que apoiamos ou causas que defendemos. Isso inclui o que não é tangível, como nossos valores e comportamentos e consequências disso, mesmo que isso se refira apenas à nossa própria vida pessoal. Esses parâmetros nos ajudam a amadurecer um senso crítico e perceber se algo é apropriado ou não, pois mesmo que algo seja permitido, pode ser que não seja o ideal em determinada situação.


Em tese, algo Halal é algo lícito pelo Islam e que tem raízes comuns à pureza. Há muito mais opções de Halal do que coisas proibidas dentro da fé e não devemos tomá-la como algo quadrado e uma lista de "pode" e "não pode". Isso deve ser uma forma de levar a vida de modo mais leve e consciente em uma sociedade em que o acesso ao que é tóxico é livre e as opções negativas mascaradas e encobertas por belos discursos são infinitas. Por isso, quanto às formas de vestir, opções de lazer, produtos a se consumir e etc., é só usar a criatividade e se atentar aos pequenos detalhes na hora de escolher, fazendo assim boas e conscientes escolhas.


Em países em que somos minoria, pode ser um desafio encontrar produtos que se adequem às nossas necessidades e restrições, mas com um pouco de organização e união das comunidades muçulmanas pelo país, é possível mostrar essa demanda ao mercado e facilitar o acesso a produtos mais limpos em sua forma de produção. Vale ressaltar que um produto certificado como Halal deve ser investigado, tal como o órgão certificador, pois isso não necessariamente engloba toda a cadeia de produção. Seguem a seguir alguns exemplos de reflexões sobre o assunto.



Alimentação Halal: saúde, sustentabilidade e caridade


As diretrizes alimentares dentro do Islam são poucas, mas bem significativas. A alimentação ideal é uma alimentação saudável, higiênica, livre de componentes tóxicos em sua produção ou alimentos modificados geneticamente. Isso contraria os processos da Indústria com produção em massa e produtos com diversos componentes químicos, corantes e conservantes. Isso também foge da lógica de produção forçada da natureza, que gera um solo comprometido em que sempre existe o uso exacerbado de pesticidas e agrotóxicos nos produtos naturais. Fugindo disso, visa-se a produção lenta, natural e saudável de alimentos igualmente benéficos e consequentemente preservando a saúde de pessoas e animais que consomem deles e estimulando um consumo equilibrado.


É necessário compreender que o consumo deve estar em coerência com a necessidade, evitando-se o excesso. O Profeta Muhammad (que a paz de Deus esteja sobre ele) nos orientou sobre visualizar o estômago em três partes, reservando 1/3 para o alimento, 1/3 para a bebida e permitindo que 1/3 se mantenha vazio para a respiração, evitando a letargia e outros problemas consequentes de uma alimentação excessiva. Além de ser um excelente hábito alimentar, ainda nos impulsiona a dividir do que temos com aqueles que não tem.

"Não é um crente aquele que dorme com o estômago cheio enquanto seu vizinho está com fome."

Profeta Muhammad (que a paz de Deus esteja sobre ele)


Dentro dos alimentos de consumo proibido estão a carne suína, a carniça, animais carnívoros, sangue e o álcool. Quaisquer traços ou derivados disso também são proibidos. É permitido consumir peixe, carne vermelha e de frango, porém isso deve levar em conta não só um processo de abate humanitário humanitário de verdade, não aquele de mentirinha que a Indústria faz para Marketing que evita que o animal sofra, como também deve preservar a dignidade do animal durante toda a sua vida, permitindo que ele cresça livremente, seja cuidado e alimentado da forma ideal e natural e eventualmente abatido longe de outros animais de forma rápida, cuidadosa e sem assustá-lo, exclusivamente para fins alimentares. Vale ressaltar que a dieta que o Profeta levou durante sua vida e a dieta encorajada a nós não tem como base a carne, o que mais uma vez bate na tecla de um consumo consciente e na preservação da vida animal de maneira digna.


Quando procuramos o termo "Halal" em qualquer plataforma de busca, surgem infinitos resultados sobre certificação de produtos alimentícios lícitos para consumo de uma dieta baseada em princípios islâmicos. No Brasil e em toda América Latina, essa certificação é feita pela FAMBRAS Halal e segue normas internacionais e de outros órgãos islâmicos. É possível encontrar no Site uma lista com marcas que possuem o Selo de certificação, porém, não significa que todos os produtos de determinada marca sejam de fato Halal, então se atente a cada produto e faça uma busca mais profunda sobre os valores e processos de produção da mesma.



Indústria de Moda & Cosméticos


Ao contrário do que muitos pensam, a mulher muçulmana pode sim explorar os artefatos de moda e beleza. A única diferença é que filtramos as intenções por trás disso e repensamos a forma com a qual aplicamos isso em nossas vidas. O expectador do cuidado feminino deixa de ser o outro e o público externo e passa a ser nós mesmas e aqueles mais próximos de nós. Assim, redirecionamos o olhar do outro para o nosso interior e o nosso valor deixa de ser definido por mãos e conceitos alheios.


Mais uma vez, aqui se aplicam os valores de higiene, saúde, sustentabilidade, consumo consciente... além das orientações específicas em função da Modéstia —. Mas de que forma se aplicam? Simples, qual é a composição de cada um dos cosméticos ou roupas que compramos? (Existem Websites e Apps sem fins lucrativos que mostram a composição completa dos produtos e o efeito delas sobre o nosso corpo, como o COSDNA e o Environmental Working Group); Eles fazem mal à saúde de alguma forma? Esse produto utiliza algum ingrediente nocivo ou ilícito em formulação ou processamento? Para produzir esse produto algum animal ou a natureza foram prejudicados? Precisamos mesmo desse produto específico ou estamos comprando impulsivamente? Ao renovar nosso guarda roupa acumulamos roupas que não usamos ou passamos elas em bom estado para quem precisa mais delas? Quem produziu essas roupas? Essa marca utiliza mão de obra escrava e/ ou mantem seus trabalhadores em condições desumanas de trabalho? Essa marca compactua com valores negativos ou polêmicos e/ ou está envolvida em algo do tipo? E por aí vai.


Em resumo, é simples: em tudo na vida, evite um comportamento automático e se questione até chegar à melhor conclusão sobre a escolha correta, mais ética e mais saudavelmente consciente. Por que é tão importante ter essa atitude? 1. Dormiremos tranquilas sabendo que fizemos a coisa certa. 2. Estaremos fazendo nossa parte em tornar esse mundo um pouco melhor. 3. Estaremos cuidando da nossa saúde e bem estar e da saúde, tais como de outras pessoas e da natureza. 4. Estaremos enfraquecendo um sistema altamente nocivo e em seu lugar, apoiando marcas que se preocupam com os mesmos valores de base. 5. Estaremos sendo recompensadas por essa atitude e encorajando outras pessoas a terem a mesma postura. Em conclusão, viver de forma Halal é a melhor e mais leve forma de viver em coerência com nossos princípios de fé e simultaneamente cuidar do mundo, em que cada escolha é gratificante, transformadora e impactante, cujos frutos colheremos alegremente, seja aqui, ou em uma dimensão melhor.

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Manie El Khal é ‬Designer de Interiores, estudante de Arquitetura & Urbanismo e Colunista Oficial da Hijab•Se. Mineira e descendente de marroquinos, ‬atua como professora, palestrante, orientadora para mulheres muçulmanas e não-muçulmanas na comunidade de Minas e trabalha como voluntária para a IERA em Belo Horizonte.

Amante da fé e da arte, mescla-as para traduzir sua essência.

Conheça mais sobre sua história através do Instagram: @maghrebiyah

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