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A reversão é o começo, não o fim.

  • Foto do escritor: Manie
    Manie
  • 25 de out. de 2020
  • 5 min de leitura

Por Francirosy Campos Barbosa, 25 de Outubro para o blog Hijab • Se

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Cientistas Sociais da religião já apontaram o trânsito religioso que muitos brasileiros acabam realizando em toda a sua vida. É possível encontrar um-a muçulmano-a que já foi candomblecista, espírita, evangélico, católico, em algumas situações até mais de uma religião. O ser humano busca o encontro transcendente, mas nem sempre sabe por onde começar. Alguns encontram por meio do estudo em universidades, outros por meio do casamento, viagem, livro, amigo. Do ponto de vista islâmico não importa como você chega a Deus, porque será sempre Ele que encaminha quem Ele quer e certamente usa as ferramentas apropriadas para cada um.


O que muitos não sabem é que a escolha por uma religião te coloca de frente a novas regras, novas formas de ações, pensamentos, e que isso não se muda da noite para o dia. Uma pessoa que aos 40 anos resolve se tornar muçulmana, esteve durante 40 anos vivenciando outras experiências, outras relações sociais, por isso, qualquer mudança radical vai soar estranho em sua família. É comum ser rechaçado por familiares. Por que isso acontece? Há várias razões para isso, vou apresentar algumas possibilidades.


Imagine você, que tinha uma filha que frequentava praias, baladas, comia feijoada, abraçava os amigos e de repente esta filha aparece de abaya, lenço, e passa a não comer mais sua comida e a corrigir o comportamento das pessoas. O que você pensaria? No mínimo que a mesma foi abduzida por um extraterrestre. As pessoas não conhecem o Islam, e quando sabem alguma coisa é sempre distorcido e o que aparece em filmes americanos representados por homens terroristas, mulheres oprimidas, sequestro de crianças, etc. Muitos filmes americanos criaram a imagem do Islam como sendo o mal do mundo. O cinema, a literatura ocidental, a mídia em geral contribuíram para demonizar o Islam e os muçulmanos e, certo dia, você aparece vestida como uma muçulmana. O que acha que todos vão pensar?


Por isso, venho sempre alertando que o melhor é mudar o que está por dentro, antes de mudar o que está por fora. Respeite mais os seus pais, pois isso no Islam este é um comportamento fundamental. Não brigue com amigos por causa da sua religião. Vá aos poucos demonstrando a sua mudança de pensamento e de comportamento. Aprenda a rezar e adorar a Deus, Ele é a força que precisa. Há menos coisas proibidas (haram) do que as pessoas costumam falar. Você não precisa acabar com a sua vida social, apenas precisa colocar pequenas regras para que as pessoas percebam que algo está diferente e o que elas devem notar é a sua devoção amorosa a Deus e não radicalismos. Não afaste as pessoas, afaste-se dos pecados.


Disse o Altíssimo (LV, 60): "Não será o próprio bem a recompensa do bem?"

Os seus amigos continuarão seus amigos se perceberem que a sua mudança é verdadeira, e não uma “modinha”, uma fulga ou qualquer outra coisa. Toda mudança tem que ser paulatina. Pense sempre: o que eu posso mudar hoje? O que eu posso melhorar? Toda mudança precipitada vem carregada de emoção e não de razão. O Islam é a religião da razão, do equilíbrio.


Um alerta importante que costumo fazer é que não precisamos deixar nossa mãe almoçar sozinha no natal, devemos acompanha-la aproveitando para explicar como os muçulmanos veem a festa cristã, o profeta Jesus, Maria. Antes de sair cortando amizades, explique aos seus amigos a sua experiência religiosa, e não se coloque melhor que eles, porque só Allah sabe o que vai no coração de cada pessoa.


Para nós mulheres há obrigação do lenço, mas considero um equívoco que o lenço chegue antes da fé, da oração, do conhecimento, antes da prática dos pilares. Hijab não é pilar da fé ou da prática. No Brasil, é preciso se preparar para seu uso. Não se é menos ou mais muçulmana por usar o hijab. Não se imponha algo que ainda não consegue carregar. Isso será danoso para você e para as outras mulheres que o usam diariamente. Hoje temos o conceito de roupa modesta – consulte o blog do hijab-se para se informar a respeito disso. Comece mudando sua forma de vestir/agir. Seja tolerante, respeitoso com outras formas de pertencimento dos seus familiares. Você mudou de religião e não eles.


Disse Abu al-Darda': "A plenitude da fé está em suportar com paciência aquilo que ela impõe (hukm) e em sentir-se contente com o destino que ela reservou para ti" (KM).

O véu não é bonito por causa da cor, do modelo, ele é bonito porque simboliza o Islam, mas se quer ser reconhecida por Deus aprenda a salat, aprenda os ensinamentos do profeta SAAS, aprenda recitar e purifique seu coração. Quando se torna muçulmano todos seus pecados são apagados, por isso, a necessidade de tomar banho e vestir uma boa roupa, para simbolizar este começo de vida. É recomeçar uma nova estrada, e esta não pode haver intolerância, radicalismo. Mudar o comportamento é um processo lento e cotidiano.


Todas as vezes que você disser que está sendo julgado-a por sua família, se pergunte internamente como você apresentou o Islam para eles. Eu não estou dizendo que você não deva usar o lenço ou mudar suas roupas, seu comportamento, mas sim, que tudo na vida é “como”. Como eu vou contar sobre o meu pertencimento? Como vou me apresentar aos amigos, familiares?


Gabriel veio ao Profeta, que Deus o abençoe e lhe conceda paz, e disse: Ó Muhammad, viva o que quiser, pois você é mortal e faça o que quiser, porque você é recompensado com isso, ame quem você desejar, pois você irá se separar dele. Saiba que a honra do crente é se levantar pela madrugada em oração para ELE e sua glória é não depender das pessoas (ser auto suficiente). _Narrado por al-Tabarani no Al Awsat".


É comum a nossa euforia após a reversão. Lembro-me da minha Shahada feita pelo Twitter e depois presencialmente, a emoção que eu fiquei, chorei durante um mês, mas sempre busquei o momento certo e as pessoas certas para contar sobre o meu pertencimento religioso, isso foi fortalecendo o meu caminho espiritual. Quando fazemos a Shahada renascemos e este renascer é todo dia, por isso, a Shahada não é um “fim” e sim, o começo de uma vida de devoção. Todos os dias, neste caminho espiritual, temos algo a aprender com os nossos irmãos e irmãs, mas nossa devoção é para Allah e tão somente a Ele. As nossas intenções serão recompensadas, mesmo que não consigamos realizar tudo que desejamos, mas intencionar, ter este propósito é importante para nos fortalecer. Allah sabe mais de todas as coisas.

Que Allah guie a todos nós a senda reta, nos abençoe e perdoe nossos pecados.


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Dra. Francirosy Campos Barbosa é antropóloga, Livre Docente no Departamento de Psicologia da USP Ribeirão Preto, pós-doutora pela Universidade de Oxford sob orientação do professor Tariq Ramadan, coordenadora do GRACIAS – Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes. Autora do livro: Performances Islâmicas em São Paulo: Entre Arabescos, Luas e Tâmaras, 2017. Diretora dos documentários: Allahu Akbar, Vozes do Islã, Sacríficio, Allah; Oxalá na trilha Malê (todos disponíveis no vimeo.)


Acompanhe pelo Instagram: @francirosy_campos

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