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Atualizado: 27 de jul. de 2020

Por Manie El Khal, 29 de Junho para o blog Hijab • Se

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Existem histórias que parecem ficção. Algumas delas, gostaríamos muito que de fato fossem apenas utopias geradas por mentes criativamente conturbadas. Acontece que na verdade, existem realidades mais frias e sombrias que a própria ficção ousaria imaginar.


Já abordamos o assunto da violência doméstica em nossa plataforma diversas vezes. E ainda há muito o que se falar, fazer e desenvolver para que tenhamos resultados. Então, abrimos o espaço para uma - guerreira - muçulmana brasileira compartilhar um pouco de sua experiência vivendo por dentro do abuso doméstico. E com o seu relato, esperamos poder encorajar outras mulheres a se manifestarem sobre o abuso, saírem de vez da situação de risco, denunciarem seus abusadores e viverem novamente uma vida digna, assim como Soraya. Sem mais delongas, deixo com você o relato que fala e emociona por si só.


"Você já esteve em um pesadelo se contorcendo e beliscando a si mesma para acordar? O que acontece quando o que parece um sonho de tirar o fôlego vira um tormento que torna difícil o simples ato de respirar? E a pior parte: você tenta correr, gritar, se desvencilhar e se encontra presa, muda, acorrentada a algo que nem mesmo consegue compreender. A pior parte é que você não acorda.


Meu nome é Soraya V., sou brasileira e habito esse universo há 46 anos. Aos dezesseis anos pensei que fosse viver um conto de fadas. O sonho de qualquer jovem mulher, pensava eu. Me casei com um homem dois anos mais velho e logo no primeiro dia me arrependi amargamente me dando conta de que cometi o pior erro que poderia: assinei minha própria sentença, permiti que extorquissem minha liberdade.

Desde a primeira noite juntos, o dito cujo iniciou seus ataques a mim. Me machucava com agressões físicas, insultos e palavras cortantes, ameaças e abuso psicológico. Fui trancada dentro da minha própria casa, completamente proibida de me comunicar com meus pais e minha família. Já não bastasse transformar nosso lar em uma prisão, ele me censurou do meu refúgio. Todas as noites eu reclinava minha cabeça sobre o travesseiro e pensava no monstro que coabitava esse espaço comigo. Diferente dos filmes, esse monstro não se escondia debaixo da cama, se exibia sobre ela e deitava agressivamente comigo até gerar em mim um filho.


Não demorou muito para que isso acontecesse. Logo no primeiro mês de “casada” descobri que carregava em mim um bebê, pelo qual me apaixonei instantaneamente. Talvez, no meio desse caos eu encontrasse assim o meu lar dentro de mim. Essa criança representava para mim um novo ciclo, uma esperança, a reafirmação do meu poder como mulher. Contudo, o pesadelo prosseguia. Diariamente eu era agredida e temia não só pela minha vida, mas principalmente pelo meu filho. De fato, tive vários problemas na gravidez devido a isso e cheguei a correr risco próximo de morrer com o bebê no meu ventre. Ele me batia outra vez, e de novo e mais uma vez, repetidamente. Sem qualquer motivo. Não existia o menor senso de liberdade para mim, a simples ação de eu abrir a janela já me acarretaria consequências.

Devido às complicações na gravidez, nos mudamos para casa da minha mãe. Não se enganem, não houve qualquer acanhamento da parte dele. Ele teve sim a audácia de manter as agressões a mim – que eram cada vez mais intensas – debaixo do teto dos meus pais. Após o nascimento do meu filho isso se agravou ainda mais. Diversas vezes eu quis me separar, mesmo que isso soasse ruim aos ouvidos alheios, porém, minha mãe se opôs à ideia. Ela simplesmente não aceitava o divórcio – como era (e talvez ainda seja) comum naquela época –. Eu ainda era muito inocente e não existia internet ou acesso à tecnologia e à informação, então eu não soube lutar contra isso sozinha. Obedeci à minha mãe e ponto.


Ao completar 18 anos assinei minha própria alforria e mandei ele embora no dia seguinte.


“Essa separação não vai acontecer. Está me entendendo? Ou melhor, com uma condição. Quero o seu filho.”

O cafajeste sabia exatamente como manipular uma mulher. Típico de um abusador, não é mesmo? Ele sabia que assim tornaria as coisas mais difíceis. Meu filho tinha pouco mais de 2 anos na época, e depois de muitas tentativas de viver com ele, acabei cedendo e entreguei a criança para ele levar. Quando isso aconteceu foi nítida a expressão de “perdido” dele, pois nunca esperou essa atitude de mim.

Me separei e fui viver, viver meeesmo, de verdade. Conheci algumas garotas e ficamos muito amigas, com quem eu então saía todos os dias. Ele não suportando me ver livre, tentou me matar. Quantas vezes não ouvimos relatos de situações como essa? O abusador quer ter total controle de você e da sua vida. Ele quer que a vítima se submeta a ele, goste ela ou não. Se o plano dele dá errado, ele tenta dar um fim em tudo, pois se sente no direito de fazê-lo. “Como assim você pensa que vai me desobedecer, contrariar, negar e ainda ousa viver sua própria vida?” Que ameaça ao ego fraco de um abusador.


Obviamente o denunciei à polícia e ainda fiz questão de ir junto ao delegado buscar a figura na casa do pai para o levarmos ao novo lar que merecia. Mas como nem tudo são rosas e a justiça mundana não é lá tão justa, ele conseguiu ser solto através do pai, que era oficial da marinha.

Novamente solto, estava livre para voltar às suas manias. Não demorou para ir até a casa da minha mãe, onde se sentiu no direito de me bater outra vez e quebrar tudo que encontrava pelo caminho. Fui na delegacia e denunciei pela segunda vez. Com o passar do tempo percebi que ele foi aceitando e mais tarde acabou se casando com uma moça que trabalhava na casa da mãe dele. Com ela, teve mais dois filhos. E neles batia muito mais do que em mim, até que no ano de 2002 deu um tiro na própria esposa – que na ocasião estava com o filho do casal de apenas 6 meses nos braços –. No mesmo ano, foi morto. Assassinado.


Ainda hoje não se sabe o que realmente aconteceu. Quem o matou e o porquê. Mas sabemos de uma coisa: seguimos vivas e usufruímos da maior dádiva dessa vida, a liberdade de se viver. Eu e ela somos amigas até hoje, nunca tive raiva dela ou qualquer tipo de sentimento ruim. Ela foi uma mulher guerreira e criou com honra ambos os filhos, hoje uma enfermeira e um nutricionista. Já eu, sigo grata pelo meu menino advogado. Aliás, sigo grata por tudo. Pelo Islam, pela vida, pela liberdade, pelo meu valor como ser humano e mulher, e principalmente, por viver uma fé que me assegure tudo isso.

Hoje, não preciso mais me retorcer para acordar de um pesadelo. Despertei. E a vida pode não ser sempre um sonho, mas eu sempre saberei que mesmo que pareça não haver saída, há quem me cuide, me guie e crie portas para que eu possa passar em lugares onde só existem empenas cegas.


E quem tiver consciência de Deus, Ele lhe apontará uma saída. E o agraciará de onde menos espera. Quanto àquele que confiar em Deus, por certo Ele lhe É Suficiente, porque Allah Cumpre o que Promete.

- Alcorão Sagrado. Surah 65: 2-3 (O Divórcio).


A trajetória nos faz mais fortes e eu não olho para trás senão para agradecer pela imensurável dádiva que é o presente.

Alhamdulillah por tudo."


Qual a sua história? Não seja a vítima, assuma o papel de protagonista, mesmo que isso vá te custar algo. Nada é tão caro quanto a liberdade.

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Manie El Khal é ‬Designer de Interiores, estudante de Arquitetura & Urbanismo e colunista da Hijab • Se. Mineira e descendente de marroquinos, ‬atua como professora, palestrante, orientadora para mulheres muçulmanas e não-muçulmanas na comunidade de Minas e trabalha como voluntária para a IERA em Belo Horizonte.

Amante da fé e da arte, mescla-as para traduzir sua essência.

Conheça mais sobre sua história através do Instagram: @maghrebiyah

 

Atualizado: 25 de abr. de 2020

Por Manie El Khal, 24 de Abril para o blog Hijab • Se

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Hoje damos as boas vindas ao nosso querido convidado: o mês de Ramadan, mês este dotado de inúmeras virtudes e no qual nos privamos de certos prazeres por tempo limitado para atingir uma melhor conexão com Deus. Durante esse mês, com o intuito de purificação espiritual (e quando existem condições de saúde para tal) deixamos de comer, beber e manter relações sexuais durante o dia (a partir da Alvorada), podendo voltar a essas práticas novamente à noite, após o por do Sol. Em nosso último texto, explicamos um pouquinho sobre o real significado do Ramadan e o jejum, tal como a essência por trás do mês mais esperado do ano. Com ele concluímos que o aspecto espiritual e o nutricional estão mais conectados do que se parece, por isso, além da abstenção de alimentos durante o dia no período de Ramadan. (entre outros) como devoção e para assim gerar um espaço fértil para a nutrição da fé, é também essencial manter uma rotina de hábitos saudáveis na alimentação para nutrição do corpo. Assim, unimos e potencializamos esses dois aspectos importantes, gerando um equilíbrio entre eles e garantindo a energia necessária para mantê-los estáveis. Pensando nisso, para iniciarmos juntas esse período com chave de ouro, traremos nesse texto algumas dicas para um jejum equilibrado pela perspectiva da nutricionista pela USP, Dra. Samara Dias.

Informações Importantes:

O jejum é prescrito por Deus como um dos pilares básicos da religião, porém, àqueles que possuem condições físicas de saúde para tal. É de suma importância verificar com um médico a possibilidade de jejuar caso desconfie de algum problema ou possua alguma doença crônica. Em caso de remédios controlados, é possível transferir (com um parecer médico) a ingestão desses medicamentos em horários alternativos. Outros públicos exclusos da obrigatoriedade do jejum são mulheres durante a gestação, quarentena pós parto e período menstrual, devendo repor os dias perdidos de jejum assim que puderem.


Jejum e Saúde

Ao começar pelo próprio jejum, existem diversos estudos científicos que mostram que a prática realiza uma espécie de Detox potente no corpo, fazendo limpas que normalmente não são feitas quando estamos regularmente alimentados, com espaços de tempo muito pequenos entre as refeições. Segundo a Dra. Samara, “os estudos mostram que você tem um período de alimentação muito menor, existe uma pré disposição da pessoa comer menos nesse período. Até mesmo para uma pessoa que não faz o Ramadan, não é muçulmana e faz o jejum intermitente ou uma pessoa que é muçulmana e não está fazem o jejum religioso, o simples fato de aumentar o espaço entre a sua última refeição do dia anterior até a primeira refeição do dia seguinte, já traz benefícios no sentido de diminuir a ingestão calórica, que é o grande problema da maior parte das pessoas hoje, que é o excesso de peso, calorias e um consumo exagerado de alimentos por conta da industrialização, do fácil acesso que a gente tem, dos alimentos hiperpalatáveis...”

Alguns estudos analisaram o efeito do jejum do Ramadan em fatores como colesterol no sangue e triglicerídeos (gordura no sangue) e encontraram uma melhora a curto prazo. Também é marcante o aumento da absorção de nutrientes, devido à aceleração do metabolismo; o fortalecimento do sistema imunológico (que em tempos de pandemia é extremamente importante); além dos benefícios para a saúde mental, visto que o jejum causa reações no cérebro que permitem proteger suas células e reduzir a depressão e a ansiedade.


Por não consumir nenhum alimento, nosso corpo é capaz de se concentrar na remoção de toxinas, pois damos descanso ao sistema digestivo. Isso permite que o intestino se limpe e tenha seu revestimento fortalecido, estimulando também um processo de “autofagia”, em que as células fazem a própria limpeza removendo partículas nocivas. Nosso sistema digestivo usa grande parte da energia, então, dando a ele esse descanso, os outros órgãos têm a possibilidade de usar melhor essa energia e terem um melhor funcionamento.

Efeitos duradouros

Ensinado pelo Profeta Muhammad (que a paz de Deus esteja com Ele), era uma de suas práticas antes de receber a Revelação do Alcorão, assim como era a prática dos Profetas antes dele. Os gregos também exploravam o jejum para cura e hoje em dia isso volta a ser tendência por suas evidentes vantagens para a saúde e o bem estar, por exemplo através do jejum intermitente. Diferente de dietas extremas e planos alimentares com restrição calórica da moda, a perda de peso que ocorre com o jejum não é novamente recuperada com facilidade e com a mesma rapidez. (O que nas dietas extremas muitas vezes acontece até mesmo com um ganho de peso extra). Isso não ocorre com o jejum (quando se mantem hábitos alimentares saudáveis) porque a redução de alimentos durante um período constante faz com haja encolhimento do estômago de forma gradual, resultando em uma necessidade menor de alimentos para que o indivíduo se sinta satisfeito.


Jejum, glicemia e diabetes

A nutricionista explica que “quando você tem um período maior sem comer, tem-se uma redução bem significativa dos seus níveis de insulina e consequentemente de glicemia. Você só tem um nível de insulina e glicemia (a glicose no sangue) em um nível estabelecido normal relativamente baixo, só pra manter suas funções fisiológicas que o seu corpo faz uma regulação a partir dos estoques que você tem no corpo, principalmente glicogênio (a glicose que a gente armazena no fígado e nos músculos). O corpo usa esse glicogênio, transforma em glicose ativa e a partir disso vai mantendo um nível normal, enquanto que quando comemos, estamos ingerindo aquela fonte de energia, e assim, se extrapolamos a quantidade que comemos ao longo do dia, a tendência é que tenhamos um nível maior de glicose no sangue e de insulina, que é o que fará a glicose entrar dentro da célula. Consequentemente, uma pessoa que come mais por muito tempo exageradamente, tem uma tendência a desenvolver uma resistência à insulina e a diabete tipo II. O jejum entra como um excelente aliado para a prevenção ou até atenuação dos quadros de resistência à insulina ou a diabetes tipo II.”

“Mas nem mesmo água?!”

Quem nunca ouviu essa pergunta, não é? Sim, nos abstemos do consumo de água durante as horas do dia, e isso exerce sua própria parte nos benefícios à saúde mencionados acima. Entretanto, longos períodos sem a ingestão de água requerem uma compensação desse elemento no nosso corpo mais tarde. Assim, devemos nos atentar bastante ao consumo dela à noite. Porém, essa reposição deve ser feita aos poucos, em pequenos intervalos ao longo das horas em que é possível se hidratar. Uma forma de perceber a desidratação é observando a cor da urina ao longo do dia e durante à noite. Quanto mais escura, maior o sinal de que se deve aumentar a ingestão de água. A nutricionista lembra que isso não significa ingerir uma quantidade maior de água de uma só vez, mas fracioná-la: “é importante beber um pouco de água a cada meia hora, quarenta minutos, distribuindo a ingestão dela durante a noite para assim o corpo conseguir utilizá-la de maneira adequada. Se tomarmos muita água de uma vez, o corpo não fará o uso dessa água para limpeza dos fluidos e a limpeza do sangue.” A água é um fator essencial no funcionamento, bem estar e saúde do corpo e a desidratação pode causar diversas complicações, além de dores de cabeça e stress. Então, vamos evitá-los, ok? Hidrate-se!

Cuidado para não sabotar seu jejum

Além de nos cuidarmos quanto à nossa conduta para não resumirmos o jejum à privação de comida e bebida, devemos lembrar de não nos sabotarmos também quando aos benefícios nutricionais, sobrecarregando o estômago com uma grande quantidade de alimentos gordurosos, de difícil digestão, açúcares e calorias vazias. Samara aconselha: ”Não é porque você está jejuando que você pode comer o mundo todo quando quebra o jejum. Isso vai muito mais de um apelo psicológico que a pessoa tem, visto que por ter ficado muitas horas sem comer, acaba achando que pode comer tudo, ou que deve se recompensar... E se você for por esse caminho, todos os benefícios que mencionamos não vão ser mais aplicados, porque se comer em poucas horas muito mais que comeríamos ao longo do dia, consequentemente teremos ganho de peso. Existem casos de pessoas que fazem o jejum espiritual do jejum de Ramadan e ganham peso, porque no horário do Iftar (quebra de jejum) acabam comendo mais por estar em família, tendo ali uma mesa de comida posta. A pessoa tem nisso, claro, o benefício de se sentir bem por estar fazendo uma devoção a Deus , porém não tem o benefícios de diminuir o benefício da diminuição de diminuição calórica por conta da ingestão de açúcar, alimentos com base de farinha de trigo refinada, não aproveitando os benefícios que o jejum poderia trazer no aspecto fisiológico.”

Alimentos do bem x O que evitar

A Dra. Samara ensina que quebrar o jejum com uma tâmara e água a seguir de uma refeição equilibrada (como foi ensinado pelo Profeta Muhammad, que a paz de Deus esteja com ele) é de fato o método mais ideal de finalizar um dia de jejum. A refeição mais elaborada pode vir depois, evitando comer algo muito pesado (o que faz com que o sistema digestivo gaste a energia remanescente para digerir essa refeição, causando letargia, o que pode também interferir negativamente nas orações de Taraweeh – oração especial realizada nas noites de Ramadan –, por exemplo).


Uma refeição mais proteica e com gorduras naturais (como a do abacate, castanhas, nozes, queijos amarelos, óleo de coco e azeite) pode ser deixada para o Suhur (última refeição feita pouco antes do início do jejum, como um café da manhã, o que dará sustento e energia para o seu corpo no dia seguinte. Fontes de proteínas como grão de bico, lentilha, suplemento (Whey), coalhada e ovos (em especial) também são ótimas opções, assim como alimentos com fonte de fibras (como tâmaras, frutas, aveia e pão integral). "Nessa refeição, evite excesso de sal, pois elas te deixarão com mais sede. Excesso de carboidratos (como pão branco, doces e açúcar) também tem o mesmo efeito, devido ao aumeno da glicose no sangue." Outra coisa a se evitar são bebidas diuréticas. Segundo a nutricionista: "exagerar no café ou no chá aumenta a eliminação de água. Se quiser, beba somente uma xícara, e beba mais água." Não se esqueça de se hidratar, antes e depois das refeições e a cada 30 minutos.


Posso praticar atividades físicas?

Sim! Mas isso depende muito da individualidade de cada um. "Se você é uma pessoa já acostumada a praticar atividade física, pode por exemplo treinar uma hora antes da quebra do jejum. Assim, o desjejum já será seu pós-treino. Mas se for uma pessoa que não é adaptada ao jejum ou não possui um nível de treinamento físico bom, é mais interessante realizar a atividade física já alimentada, ou seja, uma boa opção seria que essa pessoa quebrasse o jejum com uma refeição leve, e saísse para treinar. A refeição antes do treino não deve ser pesada, porque fazer atividade física com o estômago muito cheio atrapalha. "O que seria legal fazer? Quebrar o jejum, comer uma tâmara, se hidratar, comer por exemplo uma banana com pasta de amendoim ou fazer um pequeno lanche, com sanduíche por exemplo e sair para treinar. Depois ao retornar, você pode voltar e jantar com um prato mais equilibrado de pós treino." Sugere a Dra. Samara. Ela orienta também que "caso queira jantar e ir treinar, é possível fazer uma refeição bem estruturada na quebra do jejum e fazer o treino após cerca de duas horas. Assim, estará bem alimentada(o) e o corpo já terá feito uma boa digestão."


Treinar durante o dia não é uma boa recomendação. "Se você vai ficar muitas horas ainda sem comer, a tendência é que você não consiga recuperar de maneira eficiente essa musculatura que lesionou durante o treino. O treino é um estímulo de lesão nos musculos e conforme vamos nos alimentando e descansando nas próximas horas o corpo vai reconstruíndo esse músculo e o tornando mais forte." Explica a nutricionista.


Missão dada é missão cumprida

Lembre-se: O jejum dura apenas algumas horas e traz consigo inúmeros benefícios: espirituais, mentais e para a nossa saúde. Deus nos reafirma ao tratar esse assunto:

"Allah vos deseja a comodidade, e não a dificuldade, mas cumpri o número de dias (de jejum) e glorificai a Deus por ter-vos orientado, a fim de que Lhe agradçais."

O objetivo de tudo isso é extamente nos aproximar de nós mesmos, do nosso íntimo, nos auxiliar a cuidarmos da nossa fé e buscarmos a conexão com Ele. A intenção é adquirirmos virtudes, nos desvincular de vícios e maus hábitos, aprendermos o autocontrole, a paciência, o cuidado pelo outro que não possui os meios para se alimentar, a empatia e principalmente: a gratidão. A nossa missão é ler e reproduzir em ações com o coração aberto novamente a carta de orientação, amor e Misericórdia que Ele nos envia e sentir tudo isso nos envolver mais uma vez, nos lembrando do nosso propósito, e assim, nos nutrindo, de dentro para fora. Ele nutre nossa alma, então que não nos esqueçamos de nutrir o nosso corpo na mesma medida com os bens que Ele nos fornece.

Ramadan Mubarak! Um abençoado Ramadan! ♥


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A Doutura Samara Dias além de formada em nutrição pela USP, realizou durante a graduação pesquisas científicas no laboratório de Nutrição Esportiva da Escola de Educação Física da mesma, onde participou de um estudo sobre consumo de proteínas e fragilidade em idosos, que teve artigo científico publicado na European Journal of Clinical Nutrition. Depois de ganhar uma bolsa por mérito acadêmico para realizar intercâmbio de pesquisa científica em Portugal, na Universidade do Porto, onde morou por 6 meses, estudou sobre educação nutricional e saúde pública e realizou trabalho voluntário para idosos da Santa Casa de Misericórdia do Porto. Após a graduação, realizou duas pós graduações: de Nutrição Clínica Ortomolecular e Nutrição Esportiva. Trabalhou por dois anos na clínica medicina esportiva do Dr Rogério Padovan, mas preferiu se desligar de lá para ser autônoma, hoje seguindo carreira independente atendendo os próprios pacientes em consultório particular e online.Saiba mais e acompanhe a Doutura Samara pelo Instagram: @dra.samaradias. 😊


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Manie El Khal é ‬Designer de Interiores, estudante de Arquitetura & Urbanismo e colunista da Hijab • Se. Mineira e descendente de marroquinos, ‬atua como professora, palestrante, orientadora para mulheres muçulmanas e não-muçulmanas na comunidade de Minas e trabalha como voluntária para a IERA em Belo Horizonte.

Amante da fé e da arte, mescla-as para traduzir sua essência.

Conheça mais sobre sua história através do Instagram: @maghrebiyah

 

Por Manie El Khal, 4 de Abril para o blog Hijab • Se

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E lá se vai mais uma semana na Saga do Coronavírus, da qual não aguentamos assistir a nem mais um episódio, sempre tão envolvidos por cenas trágicas e trazendo à nossa realidade direta um cenário inédito. Desde que adotamos à reclusão do isolamento social, temos sido bombardeados por uma série de informações: médicas, sociológicas, políticas e sociais, fazendo-nos sempre reflexivos; Fomos obrigados a realizar inúmeras mudanças em nossas rotinas, no nosso estilo de vida, nos planos de curto e longo prazo, nos recordando mais uma vez de que não possuímos controle sobre tudo, como pensamos; Precisamos adaptar a nós mesmos e nossas atividades cotidianas profissionais e acadêmicas a novos métodos, novos hábitos, novas formas de fazer as coisas, não usuais a nós. E isso não tem sido tarefa fácil.


A grama do outro é sempre mais verde


Sim, de fato, não está fácil para ninguém. Mas pode ser (muito provavelmente) que estejamos sendo infinitamente mais afortunados que milhares e até mesmo milhões de pessoas, e cada dia vivido deve ser considerado uma vitória, ao invés de buscarmos atender a expectativas irrealistas em um momento tão delicado (expectativas de nós mesmos ou da sociedade). Acontece que nós, da era digital e da informação, dificilmente conseguimos filtrar os conteúdos que consumimos diariamente no meio virtual, e em tempos de quarentena, a melhor (e agora única) forma de socializar mais do que nunca parece ser essa: as redes sociais.


Acompanhamos de pertinho as novas rotinas de quem também está em casa e mais uma vez os nossos amigos, as figuras públicas e quaisquer outros seres humanos sobre a face da Terra parecem lidar perfeitamente bem com todos esses desafios. Afinal, a quarentena significa ficar em casa, que é sinônimo de tempo livre, que por consequência torna obrigatório sobre nós que produzamos tudo que não conseguimos na correria dos dias normais, certo? Sentimos que essa é hora de fazer acontecer: criar conteúdo, ler todos os livros da estante, ouvir todos os Podcasts de autodesenvolvimento salvos, estudar, trabalhar, fazer exercícios físicos, produzir a todo vapor... assim como todo mundo, porque não temos tempo a perder e não podemos ficar de fora. Ué, será mesmo?



E se... Cuidarmos do nosso jardim sem compará-lo a outros?


E quem disse que devemos ser como “todo mundo”? Há uma boa chance (bem provável que seja) que grande parte de todo esse sucesso e produtividade que vemos ser transmitindo por aí sejam apenas um cenário montado para passar exatamente essa imagem. Há uma boa chance de que as mesmas pessoas que admiramos tanto por tais virtudes estejam dirigindo o olhar de admiração a nós e se sentindo da mesma forma que nós. Mas digerimos tudo isso sem pensar no que acontece por trás das câmeras, e que o conteúdo que as pessoas retratam são cenas muito cuidadosamente selecionadas. Sendo assim, comparamos a verdade nua e crua dos nossos bastidores com os highlights alheios bem tratados.

Isso não significa de forma alguma que devemos tratar a quarentena como férias e ceder às nossas zonas de conforto, mas sim que não podemos nos deixar levar pela ansiedade e a urgência de estar sempre competindo com o mundo lá fora, e sim estejamos focando no que realmente importa: nosso desenvolvimento natural e saudável. Dessa forma, podemos receber conteúdos úteis de forma benéfica e saber separar as coisas quando isso se refere ao nosso próprio progresso. Afinal, isso não é uma corrida, é um processo só nosso. Devemos entender que somos todos únicos e apesar de muitas vezes compartilharmos da mesma missão, cada um de nós percorre sua própria jornada de maneira diferente, em ritmos diferentes, com prioridades diferentes. Não faz o menor sentido, e é completamente nocivo para nós mesmos exigir de nós um padrão alheio, visto que a nós pertence a nossa história e a história do outro jamais deve servir de parâmetro, e tão somente contribuir com lições e inspirações.


Mentes à obra: Desenvolvimento autoconsciente


Bom... Já chegamos à conclusão de que comparar nossas conquistas com as vitórias alheias pode fazer com que acabemos tornando triunfos dignos em aparentes derrotas em um piscar de olhos. Agora, em um maior contato com as redes sociais e por fora da vida real das pessoas do nosso convívio, isso se intensifica e deixamos que isso ocorra sem nem ao menos nos dar conta. Durante esse período de reclusão podemos passar mais tempo na própria companhia, e o nosso “eu” nos acompanha a vida inteira sem pausas. Que tal voltarmos a nossa atenção a o que realmente precisa dela?


A quarentena é uma excelente oportunidade para nos conhecermos melhor, cuidarmos da nossa saúde mental e física, buscarmos força para nossa espiritualidade e uma conexão maior com Deus, sendo todos estes, aspectos que favorecem que estejamos em paz com nós mesmos e dessa forma, não só sobrevivamos a esses tempos difíceis, mas alcancemos a harmonia durante e depois deles. Para isso, precisamos estar sempre alertas à forma que nos comportamos e respondemos a certos estímulos (física e psicologicamente, nos policiando de respostas automáticas inconscientes). Ponderar sobre experiências passadas (sem remorso, a fim de entender a nós mesmos) pode nos trazer lições e aprendizados que não conseguimos absorver no calor do momento. Além de autocompreensão, isso é uma forma de autocuidado, e se o fazemos sem julgamentos, com aceitação e carinho, conquistamos muito mais, com reflexos disso para nossa vida como um todo. Esse tipo de produtividade é sem dúvidas o mais importante, não possui restrições, cobranças e nem padrões comparativos: somos nós com nós mesmos.


Equilíbrio: Entre a produtividade e o relaxamento

“Ok, estou bem comigo mesma, mas ainda preciso alimentar minha família, pagar minhas contas, trabalhar, estudar e produzir de fato o que quer que seja.” Sim, sem qualquer resquício de dúvidas, não existe equilíbrio se focamos em apenas uma coisa e deixamos faltar para o resto. A situação atual é crítica de modo geral, entre nós temos mães solteiras, provedoras para seus lares, mulheres impossibilitadas de aderir à quarentena, desempregadas, entre outras milhares de exemplos de mulheres fortes (que muitas vezes sequer conseguem reconhecer toda a sua força).


O primeiro passo é não se desesperar. Estamos, mais uma vez, juntas nessa. Para algumas, o calo aperta um pouco mais e é importante saber pedir ajuda quando necessário, sem se sentir inferior ou um fardo com isso. Além de ser um tempo do provações, é possível que seja um tempo de privações também, então, saber selecionar o que é prioridade e aceitar que não teremos tudo sob controle é crucial. Se a primeira parte que abordamos sobre estar bem consigo mesma está em exercício, será infinitamente mais fácil passar por isso sem maiores desconfortos, por isso a importância de se cuidar sem se cobrar com base nos padrões do outro.



"Confie em Deus e amarre seu camelo"


O Profeta Muhammad (que a Paz de Deus esteja com Ele) certa vez foi procurado por alguém que perguntava se deveria amarrar seu camelo para que não fugisse ou se era suficiente confiar em Deus. Sua resposta foi "Confie em Deus e amarre seu camelo". Retire o seu esforço da equação e terá uma confiança incompleta, e se removermos a confiança em Deus, de nada valem nossos esforços. Antes de tudo, devemos nos recordar e mais uma vez buscar conforto nisso: a certeza em Deus, aliada a nossos empenhos. Ele mesmo nos diz no Alcorão Sagrado:

“E quem se encomendar a Deus, Ele lhe apontará uma saída, e o proverá de onde menos esperar. E quem se encomendar a Deus, por certo Ele lhe É suficiente, porque Deus cumpre o que promete. Certamente, Deus predestinou uma proporção para cada coisa." (Alcorão 65:2-3).

Então, o que te aflige? O termo usado na passagem original em árabe para “apontará uma saída” implica em criar uma saída que não existia antes, então, se você se vê no final do túnel mirando uma parede cega, saiba que se a confiança em Deus for sua companheira nesse momento, Ele faz questão de abrir um portal só para que você possa sair dessa. Fica tranquila!


O momento é de incertezas, mas a nossa fé, não. Não sabemos quando tudo vai passar, mas sabemos que passaremos bem, e que vai passar! Estamos em isolamento, mas com toda a absoluta certeza: não estamos sozinhas. Existe uma citação muito conhecida e que me traz muita motivação, espero que a você, minha leitora, também:

“Faça o que puder, de onde estiver, com o que tiver.”

Se você tem tempo livre e quer tirar aquele projeto de anos da gaveta: vá em frente! Se você quer repensar sua vida e começar “do zero”, levando consigo de crédito toda a experiência: o faça! Se você só precisa de um tempo com a família para refazer laços e esvaziar a cabeça, tudo bem. E se você não tem a oportunidade de dedicar muito tempo a outras coisas, faça o que você faz com toda a paixão que existe em você. Em qualquer uma das opções ou qualquer outro caso: siga confiante, dedique o seu melhor e por favor: saiba relaxar. Isso é um dever que você tem consigo mesma. Lembrando: pouco importa em que degrau você está, só continue subindo. Se for preciso descer, seja compreensiva consigo mesma. Se for preciso parar, dê a si o descanso, recupere as energias e volte a subir. Somos feitos de altos e baixos e ninguém é constante. Isso se aplica a cada uma e cada um de nós. Deus, Louvado seja, valoriza nossos esforços dentro de nossas capacidades, não necessariamente os resultados. Por que faríamos diferente? Relaxa! 😊



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Manie El Khal é ‬Designer de Interiores, estudante de Arquitetura & Urbanismo e colunista da Hijab • Se. Mineira e descendente de marroquinos, ‬atua como professora, palestrante, orientadora para mulheres muçulmanas e não-muçulmanas na comunidade de Minas e trabalha como voluntária para a IERA em Belo Horizonte.

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