Sustentabilidade na Moda: Um Panorama
- Manie

- 9 de ago. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 16 de ago. de 2020
Por Manie El Khal, 9 de Agosto para o blog Hijab•Se

Sustentabilidade... Assunto complexo, muito discutido nos últimos anos, com uma gama de informações e aspectos a se considerar e principalmente: urgência em ser implementado. Mas como tudo começou? Como tem sido desde então? Para onde estamos caminhando? O que podemos fazer para ajudar? Vamos refletir juntos a seguir.
Panorama Histórico sobre o Tema
Começou-se a falar de sustentabilidade na Moda — e consequentemente em temáticas similares — também de modo muito recente, comum ao Movimento Moderno pelo Meio Ambiente. A primeira aparição do tema na literatura didática aconteceu em 1962, em "Silent Spring", uma publicação feita por Rachel Carson, o que influenciou fortemente o debate acerca do impacto social e ambiental da moda desde então.
A partir disso, passou-se a existir um maior número de estudos sobre os efeitos negativos das Atividades Industriais de modo sistêmico e o conceito de Desenvolvimento Sustentável entra em cena em 1987 visando a mitigação de tais efeitos. Dessa forma, tais conceitos passam a ser trazidos para dentro dos contextos produtivos das Marcas no final dos anos 90 e decorrer dos anos 2000, principalmente através da busca e implementação de materiais alternativos menos prejudiciais ao ambiente. Através disso, criou-se uma conexão do Desenvolvimento Sustentável e a preocupação com o meio ambiente com outros movimentos, discursos e conceitos. Vamos entender a seguir o por quê disso:
O Mal do Milênio
Contextualmente, como abordamos outras vezes, temos em questão uma Sociedade globalizada, capitalista, com fortíssimos efeitos da Revolução Industrial e consumo exacerbado. A geração de resíduos é proporcionalmente crescente, para o qual — em sua maioria — não é dado o devido manejo, e assim, além dos impactos negativos de contaminação da natureza e de pessoas, ainda existe o esgotamento por exploração de recursos naturais renováveis e não renováveis, agredindo o meio ambiente de diversas maneiras em tais processos. A moda, como tantos outros, é um setor que compartilha disso, muitas vezes em toda sua cadeia produtiva.
Alguns exemplos se dão através da produção exagerada nesse setor: por conta da facilidade de produção de processos industrializados, produz-se então uma variedade enorme de produtos para todas as demandas. Pelo lado do consumidor, cria-se o desejo de ter sempre uma nova peça — o que é estimulado pelo grande Marketing apelativo, embelezamento das peças e estratégias de venda — e com isso, tem-se a necessidade constante do novo para gerar as mais variadas combinações dos mesmos produtos. Além do próprio Marketing, existe algo ainda mais forte atuando na equação: a ideologia de desenvolvimento, riqueza e "primeiro mundo", que alimenta tal Sistema desde suas origens até os dias atuais, cada vez mais.
Dessa forma, muitas(os) de nós para pra pensar: "vou comprar de acordo com a necessidade", mas o que fazer quando a necessidade acaba por ser frequente, tendo em vista que muitas das roupas são feitas estrategicamente com o intuito de servir por um período limitado, em que a menor durabilidade garante que o comprador vá consumir novamente? Enquanto isso, o meio ambiente continua sendo degradado sem a menor condição para se regenerar, porque em todos os lugares e para todos os setores e serviços do ser humano se utilizam — e se agridem — as riquezas naturais incessantemente, o que em grande parte não é diferente com a Moda, apesar dos grandes avanços nesse setor por parte das marcas quanto à preocupação em se ser eco-friendly (ecologicamente amigável, pouquíssimo a nada agressivo ao meio ambiente).
Movimento x Modismo
Com o crescimento da pauta de modo geral na Sociedade entre compradores e a manifestação de marcas levantando a bandeira da Sustentabilidade, — através de por exemplo, o Fashion Revolution, que fortalece a pauta no Brasil desde 2014 discutindo soluções sustentáveis para a moda —, muitas outras marcas — e personalidades — alimentam o sistema ao qual se opõe o Movimento enquanto carregam o discurso de serem ecologicamente e corretos, e isso tem nome: Greenwashing. O Greenwashing nada mais é do que a apropriação desse discurso de forma a ganhar a aceitação do mercado e potenciais clientes, além de agregar valor — completamente falso — à marca, quando na realidade não existem por meio dela quaisquer medidas em defesa ao meio ambiente ou minoração de problemas ambientais, sendo muitas vezes não só omissas, como contribuintes com toda a problemática.
Contudo, felizmente, nem só de propaganda enganosa vive o mercado. O aumento na conscientização acerca do assunto — assim como a demanda por marcas ecologicamente corretas por meio dos consumidores — tem sido significativamente crescente nos últimos anos, o que tem sido tão grande quanto o número de marcas que passaram a buscar melhores formas de atender o urgente apelo da natureza — e do ativismo dos clientes, risos —. Isso não significa deixar de produzir, tampouco deixar de consumir, apenas ir de encontro com a forma mais saudável de fazê-los: com consciência, responsabilidade e transparência.
Sustentabilidade Ética
Pela integração do movimento com vários outros, vale ressaltar que o termo Sustentabilidade não tem somente a ver com natureza e meio ambiente, tendo uma conceituação muito mais ampla. A cadeia produtiva dos produtos que utilizamos no dia-a-dia, — nesse caso, nossas roupas — é complexa e problemática de múltiplas formas, e cada um desses aspectos deve ser contemplado. Exemplo disso é a exploração da mão de obra barata — ou devo dizer escrava? —. Isso lamentavelmente não é raro e está mais próximo e presente do que pensamos. Muitas das grandes marcas que conhecemos e consumimos sem conhecer os bastidores carregam essa culpa, inclusive o modelo de mercado Fast Fashion, que garante relativa acessibilidade em suas peças em função do trabalho escravo de alguém que se submete a condições completamente inviáveis de uma demanda altíssima — e pesada — de trabalho, trocando sua energia e saúde — física e mental — por um preço mínimo, ou até mesmo simplesmente em troca de recursos básicos como alimento e moradia — e vai por mim, nas piores condições —. O número de marcas envolvidas em escândalos desse tipo é assustador.
Por fim, ouvimos tanto falar de Sustentabilidade por aí, que para muitos pode até soar chato. Para outros, é um simples modismo. E para nós, é algo que precisa ser discutido com ainda mais força e estrutura, pois é urgente. Esse é um tema complexo, envolve muito além do que apenas um discurso e não só pode, como deve ser feito muito mais do que tem sido por essa causa. Esse processo envolve a escolha de materiais menos agressivos — como os orgânicos —; reuso de recursos — como a água — nas etapas de produção de peças, assim como a utilização de energia renovável; criação de coleções menores — como coleções cápsula —, produção mais lenta, transparente e saudável e a preservação dos direitos trabalhistas ao provedor da mão de obra, garantindo ao trabalhador não só o pagamento justo por seu serviço, como condições saudáveis para execução do mesmo. Essas são apenas algumas das possíveis — e necessárias — medidas a serem implantadas com urgência, sendo valores dos quais a Hijab•Se preza e principalmente, algo que podemos encher a boca — e o coração — de orgulho mais uma vez ao lembrarmos que são valores que o Islam tem pioneiramente pregado e respeitado há mais de 14 séculos, desde a sua fundação e muito antes de qualquer tendência secular politicamente correta. (:
E você, cara(o) leitora(o)?
Compartilhe com a gente sua experiência com a Sustentabilidade, seja na moda ou na vida, para que possamos aprender juntos. Compartilhe também com quem te rodeia o que aprendeu aqui, para que essas reflexões por uma Sociedade Sustentável reverberem cada vez mais, assim como seus resultados. ♥

Manie El Khal é Designer de Interiores, estudante de Arquitetura & Urbanismo e Colunista Oficial da Hijab•Se. Mineira e descendente de marroquinos, atua como professora, palestrante, orientadora para mulheres muçulmanas e não-muçulmanas na comunidade de Minas e trabalha como voluntária para a IERA em Belo Horizonte.
Amante da fé e da arte, mescla-as para traduzir sua essência.
Conheça mais sobre sua história através do Instagram: @maghrebiyah






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